segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Carta de desligamento do projeto Fanzine Catraca: Pede passagem!



Carta de desligamento do projeto Fanzine Catraca: Pede passagem.



Eu, Marcelo da Cruz Santos, portador do RG: **.***.***-*, devidamente identificado, venho por meio desta informar o meu desligamento do grupo Passagem para o conhecimento, cujo projeto subsidiado pelo programa VAI esse ano é o fanzine Catraca: Pede passagem.



O motivo pelo qual eu tomei essa decisão vem de longa data. Conforme conversamos na primeira prestação de contas, tivemos muitos problemas com a confecção e distribuição dos fanzines, primeiro por falta de planejamento por parte da divulgação [Cássio e Eduardo], falha minha em cobrar mais empenho dos mesmos na realização das tarefas. Contudo, a primeira tiragem do fanzine nós conseguimos [a muito custo e esforço] imprimir 90%, pois ainda não imprimimos mais ou menos umas 500 cópias. Tivemos problemas com a impressora que ficou muito tempo na manutenção, pois a mesma não agüentou o fluxo de trabalho grande a que foi submetida [embora na hora da compra, deixamos CLARO para a vendedora da forma como usaríamos a mesma]. Mas esses problemas, como eu mesmo disse na ocasião da prestação, estavam sendo resolvidos e de fato estavam. O motivo do meu desligamento do projeto não é esse, e sim outro bem mais grave a meu ver.


Inicialmente me deixe explicar uma pequena situação:


O projeto do fanzine é MEU! E só meu! Pra começo de conversa, afinal fui eu o idealizador, fui eu quem o escrevi, fui eu quem passou noites acordado fazendo planejamentos e planos, fui eu que sonhei que esse projeto poderia dar certo. Esse grupo [atual] foi criado excepcionalmente por conta deste edital, embora os membros do grupo mais antigos ainda participem [prova é a colaboração deles nas edições do fanzine]. Você deve estar se perguntando, ora, se foi ele quem fez tudo, porque colocou outra pessoa como proponente? O motivo é que sou funcionário da pasta da educação municipal e de acordo com o edital, através do regimento dos funcionários públicos do município de São Paulo, eu não poderia participar de uma seleção de subsídio da prefeitura como proponente de projeto [como se um funcionário público não quisesse transformar a realidade onde vive através de um projeto! Isso é um retrocesso!!!!]. Como o Cássio, que é o atual proponente do projeto, tinha participado de uma formação em fanzines em 2007, na época em que fazíamos o Programa Jovens Urbanos [de onde originalmente saiu o projeto], achei que ele seria uma boa escolha para ser o proponente do projeto. Chamei também meu primo, o Eduardo, que sempre se mostrara uma pessoa interessada em fazer algum trabalho alternativo para a comunidade, além do Felipe e da Vanderlânia, que também se mostraram interessados em colaborar, embora de forma indireta no Catraca. Na verdade, não poderia ter feito erro maior na vida. O Cássio durante o projeto se demonstrou na prática um verdadeiro MERCENÁRIO, assim como o Eduardo. E digo mercenário na real concepção da palavra, pois os mesmos apenas faziam as suas obrigações [as mesmas que ELES PRÓPRIOS se compromissaram a fazer] quando eram extremamente pressionados por mim, ou quando estávamos perto do dia 15 [o dia do pagamento da bolsa auxílio]. Eles entraram no projeto como DIVULGADORES E DISTRIBUIDORES, ou seja, eles deveriam fazer o serviço de divulgação, captação de matérias e contatos para o Catraca, além de distribuir as cópias quando as mesmas fossem impressas e ficassem prontas. Em NENHUM momento da duração do projeto qualquer um dos dois o fez por vontade própria, pelo contrário, praticamente todas as vezes que saíamos para divulgar o projeto eu tive que praticamente obrigá-los a ir. De acordo com o planejamento inicial, eles deveriam durante DUAS HORAS TRÊS DIAS POR SEMANA fazer a divulgação e captação de contatos para o fanzine em escolas, ONGs, espaços públicos, bibliotecas entre outros. Eles NÃO fizeram NENHUMA divulgação desta até agora. Mesmo as que eu marquei eles não foram, sendo as únicas que eles compareceram foi por iniciativa minha, a conferência nacional livre: Juventude e comunicação e a conferência livre nacional de comunicação, ambas realizadas em São Paulo. Esses dois eventos eu marquei para irmos, eu fiz os contatos, as inscrições e praticamente toda a divulgação do projeto no dia.


Além disso, outras coisas mais me fizeram tomar essa decisão. Como o fato de eu ter que fazer todos os trabalhos do fanzine, inclusive controlar as manias de gastar o dinheiro com coisas não previstas no projeto e controlar a ansiedade em receber a bolsa auxílio, como no caso deste mês específico, em que o Eduardo me pediu o adiantamento da bolsa do mês de outubro CINCO DIAS DEPOIS DE PAGAR A DE SETEMBRO! O fato de durante mais de um mês eu ficar absolutamente sozinho na captação de matérias, na divulgação, nos contatos, falando com os colaboradores, planejando, diagramando e executando as tarefas técnicas do fanzine, como ilustrações, capas, pesquisa de pauta e afins. Isso tudo aliado ainda ao cuidado exclusivo em relação à prestação de contas, sendo que os mesmos não me entregavam quase nenhum dos comprovantes de recargas de bilhete único e combustível que utilizaram, sendo preciso eu chegar a brigar para que me entregassem, além de notas de toner que não me foram entregues também, provocando um grande prejuízo na organização dos arquivos para a prestação de contas.


Outro motivo também é o contato com o próprio programa. Falei com eles para que verificassem o e-mail diariamente para ver se tem alguma mensagem do programa sobre algum evento, sobre alguma orientação e nada, eles não o fizeram, sendo que a totalidade dos e-mails que são enviados pelo projeto foi de minha autoria e TODAS as respostas do programa foram dadas por mim, porque não há nenhum interesse por parte dos dois em participar ativamente de nada do fanzine, a não ser os passeios de carro e o dia do pagamento da bolsa auxílio. Insisti diversas vezes para que eles tomassem conhecimento de sua atitude e melhorassem em relação ao projeto [que classifiquei sempre como NOSSO!], que era nossa responsabilidade com o dinheiro e o apoio que estávamos recebendo, que não era de graça, que tínhamos uma responsabilidade social para com as pessoas que confiaram na nossa palavra, que enviaram suas idéias, seus textos, suas poesias, na esperança de as verem publicadas e distribuídas e todos os outros motivos que poderia ter usado, sem nenhum sucesso a não ser perto do dia do pagamento da bolsa auxílio, além da grande quantidade de dinheiro público que estávamos recebendo para manter o projeto. Chegamos ao absurdo de os dois ficarem praticamente um mês sem nem tocar no assunto do fanzine [e eu tentando entrar em contato diariamente por telefone, indo na casa deles, porém não os encontrando em nenhum dos casos], e depois de tudo isso, com eu praticamente me matando para tentar cumprir os prazos e deixar tudo pronto para quando a impressora chegasse da manutenção [novamente!] a gente pudesse imprimir e distribuir tudo rapidamente, os dois me chegam e perguntam sobre o pagamento da bolsa. Quando falei sobre o projeto, sobre a responsabilidade que eles tinham, simplesmente desconversaram e mudaram de assunto. Sinceramente nesta hora considerei a gota d’água. Simplesmente não posso mais continuar no projeto desse jeito. Não dá pra continuar a trabalhar sozinho em um projeto que conta com três pessoas QUE RECEBEM PARA FAZER. Não dá pra continuar em um projeto em que duas das três pessoas não estão interessadas em nada mais do que o dinheiro que recebem por causa da participação [inativa] no projeto. Não posso continuar tentando manter o projeto em pé depois de receber tanto golpe. Fiquei revoltado, me prejudiquei no trabalho por causa disso, minha saúde ficou debilitada, peguei pneumonia, fiquei três dias de licença médica, gastei mais de R$200 em medicamentos, perdi várias aulas do meu atual curso superior, tanto que terei que trancar a matrícula, já que praticamente reprovarei em várias matérias por faltas, me prejudiquei na minha pós-graduação de sábado também por várias faltas, além do desgaste físico e psicológico de ter que lidar com tanto problema de projeto, de trabalho, de saúde, de estudo sem ter as pessoas que se prontificaram a ajudar pelo menos no projeto, a causa inicial de tanto problema.


Podem dizer o que quiser... podem dizer que eles trabalham e se cansam [como provavelmente irão fazer no seu contato com eles], mas eu também trabalho, aliás, por causa da reposição das aulas do período de 03 a 15 de Agosto, estou trabalhando 12 horas por dia, faço dois cursos superiores, um em design gráfico [exclusivamente por causa do fanzine!] e uma pós graduação, além de dois cursos online. Ainda tenho que chegar a minha casa cansado, esgotado psicológica e fisicamente por causa do meu trabalho [o 2° mais estressante do PAÍS!] e do estudo e ainda ter que cuidar de um projeto sozinho, agüentando inclusive, o desaforo de os outros integrantes do grupo só quererem saber do dinheiro no meio do mês. Dormindo pouco e mal, preocupado com prestação de conta, cumprimento de prazos, elaboração de pautas, contatos, divulgação, captação de matérias, manutenção da impressora, pagamento da conta de luz [sim, porque a luz é gasta da minha casa, sem nenhum reembolso [parte por culpa minha, já que não coloquei esse item no planejamento!]], com as próximas matérias, com o atraso que enfrentávamos, com os problemas no trabalho e na vida pessoal, nos estudos e no resto da sua vida. Sinceramente a gota d’água até tardou para chegar, sinceramente.


Apesar de toda a revolta que tenho neste momento, eu estou muito triste por me ver obrigado a tomar esta atitude, afinal de contas, o projeto do fanzine é um sonho antigo, de infância mesmo. Sempre sonhei em fazer alguma coisa para que as pessoas lessem, gostassem e que passassem para outras pessoas, pois sempre fui um ávido leitor, porém solitário, e era uma coisa que me entristecia muito. Dói de verdade no meu peito abrir mão deste projeto, pois foi um projeto que deu muito certo no período de formação que fizemos em 2007, inclusive unindo um grupo muito bom que continua fazendo ações em outras áreas culturais até hoje. Fico muito entristecido em ter que abrir mão de um projeto que dei muito sangue para conseguir, mas vejo essa como a única saída, já que não posso tirar do Cássio o cargo de proponente, justamente por ser funcionário público do município. A minha maior tristeza é ver que meu projeto, que é fruto de tanto sonho e tanta luta vai acabar sendo jogado no lixo. Tudo por causa da irresponsabilidade alheia e da falta de interesse demonstrada em cumprir com as obrigações que eles mesmos se prontificaram a realizar.


No mais, estou à disposição para outros esclarecimentos.






Marcelo da Cruz Santos.




PS: Foto de fim de post:


Momentos mais felizes do projeto....

sem mais comentários.


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